Documentário Derrubando Barreira faz um balanço sobre a Independência feminina no Brasil nos últimos 200 anos de história

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0:01 Patrocínio : Governo do Estado do Rio de Janeiro , Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro – SECEC RJ, através do edital RETOMADA CULTURAL RJ 2

0:06 Cia Encena

0:12 Dumont Cultura e Tecnologia

0:18 Sônia produções

0:24 Apresentam

0:31 [barrulho de trem chegando]

0:38 Sônia Oliveira: Sejam muito bem-vindos à estação de Comendador Soares, Nova Iguaçu.

0:45 Periferia da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. [Falácia]

0:54 Sou moradora da periferia desde que nasci sou casada, mãe, formada em economia e empreendedora,

1:04 logo, esse filme é uma visão parcial de mais uma cidadã Fluminense.

1:15 Busquei fazer uma pesquisa com depoimentos de mulheres com diferentes visões, de diferentes territórios, oportunidades, classes sociais

1:26 e idades

1:44 Elas emitiram suas opiniões a respeito das comemorações pelos 200 anos da Independência do Brasil na ótica da Independência feminina.

2:08 As perguntas que fiz a cada uma delas foram, O que você comemora nos 200 anos de independência

2:15 do Brasil que colaborou no processo da nossa Independência feminina?

2:20 e qual barreira ainda nos impede de sermos plenamente independentes?

2:26 [Música]

2:36 [Barulho de claquete] Então vamos lá o que você comemora nesses 200 anos de independência Feminina?

2:42>> Corina Mendes: Eu comemoro a autonomia das mulheres de terem conquistado a possibilidade de falarem por si e por outras mulheres.

2:53 e não que falem sobre elas sobre os seus corpos, sobre os seus desejos, sobre seus futuros como foi em grande parte da história da humanidade

3:04 e aí assim, no plural porque a gente também tem que pensar mulheres no plural, são mulheridades, como a gente diz hoje, né.

3:13 Essa diversidade de mulheres. Diversidade com relação a idade a geração

3:20 a territórios de pertencimento a nacionalidade, isso é fundamental.

3:27 Quando a gente pensa a história do corpo feminino

3:33 a gente vai encontrar homens falando sobre o corpo feminino

3:40 e pensando o corpo masculino como padrão, então a mulher de uma certa forma já estava

3:46 ali numa direção de desvio, de anormalidade, de fora daquele enquadramento masculino sobre

3:56 o que era o normal. A régua de quem é esse ser é o homem

4:04 e o que que foge daquilo muitas vezes é associado a anormalidade. A gente pode ver isso na literatura,

4:11 a gente pode ver isso nas artes. Então são as mulheres, por exemplo, as histéricas

4:17 do século XIX sobre as quais Freud escreveu e muito da psicanálise vem da construção

4:25 sobre essas mulheres. Mulheres que eram internadas como loucas.

4:31 Mulheres que iam para conventos compulsoriamente por não atenderem a determinados padrões,

4:38 determinadas normas de moralidade sobre o

4:44 que desejavam sobre como viviam. Então eu comemoro essa possibilidade que

4:51 a gente tem hoje construída, conquistada, negociada, de podermos falar sobre nós, por nós e também,

5:00 abrir… cada uma vai abrindo uma porta e uma possibilidade para que outras se juntem falem delas também

5:06 >> Hildete Pereira: A educação é um passo gigantesco para você sonhar e descobrir a o que você tem direitos, entendeu?

5:17 Um povo que não é educado é um povo controlado,

5:23 entendeu? É muito mais fácil controlar quem não sonha e não tem educação para ler, para refletir sobre as questões

5:31 da vida, nem conhece a história nem nada, então é um povo submisso

5:37 >> Corina Mendes: Agora, como falar sobre como se sente, se você não é alfabetizada?

5:43 Às vezes a gente pensa pouco sobre isso, não é? Imagina a limitação de uma mulher, mãe

5:48 que não é capaz de ler a receita do remédio que o médico mandou que não é capaz de ler uma placa de ônibus

5:56 para saber para onde vai, que assina um contrato de trabalho que não

6:02 teve a competência, a capacidade de ler e de compreender,

6:09 mas também teve a vergonha de falar que não que não sabia ler e escrever >> Hildete Pereira: Para as mulheres brasileiras

6:15 os 200 anos da Independência tem uma grande questão que, é a questão de que

6:22 elas se educaram, o esforço delas, nosso porque eu estou dentro,

6:28 nós estamos todas nesse barco, é vitorioso, quer dizer, as mulheres comemoram

6:35 200 anos, elas em 1822 eram praticamente todas analfabetas

6:43 e hoje elas têm uma educação, são maioria de mulheres nos cursos superiores,

6:48t em educação compatível com o processo

6:56 de desenvolvimento nacional, e podem exercer qualquer cargo na república brasileira

7:04 Isso é uma vitória das mulheres não é o Estado não tem política para as mulheres.

7:11 A política que vai aparecer para botar

7:17 as pessoas do Brasil na escola já é na década de 90, com Fernando Henrique Cardoso,

7:23 que nós vamos conseguir botar 94…93% das

7:28 crianças na escola. Isso está complementado com os governos Lula,

7:34 quer dizer, é o governo do Fernando Henrique e o governo Lula que vai trazer 98% das crianças

7:42 para escola, é preciso que as crianças vão à escola para poder aprender a ler, a escrever e a somar, entendeu? A escola é vital.

7:52 Mas isso, você percebe como isso é uma questão

7:59 que a sociedade brasileira ao longo do tempo pouco se ocupou.

8:06 Uma coisa importantíssima é a lei de cotas e foi uma mulher, a nossa ministra, a reitora da UERJ

8:15 da Universidade Estadual do Rio de Janeiro que ousadamente em 2001 promoveu uma lei de

8:21 cotas por cor na universidade e isso pegou fogo no Brasil inteiro e eu diria

8:27 que as cotas hoje é uma vitória. É uma vitória da nossa República que tá completando

8:33 da República que tem menos tempos, 130 e poucos,

8:39 mas do estado brasileiro que tem 200 anos, que está completando 200 anos em 2022 e hoje o campus da universidade é um Campus que tem brancos, pretos ,…

8:49 … tem todas as cores, é colorido e alegre Então essa é uma vitória. As mulheres pretas

8:58 e pardas continuam tendo um número maior de diploma superiores do que os homens.

9:05 Mas o avanço é tão grande que … … eu tenho um um trabalho, que foi com os dados de 2005,

9:14 a gente só tinha 2% das pessoas com curso superior do Brasil que se declaravam pretas e pardas (negras),

9:24 e hoje a gente tem um número muito maior, quer dizer, isso triplicou ao longo do tempo, para você ver o sucesso

9:31 que foi a política de cotas e a abertura das Universidades para todo mundo

9:38 que quiser chega lá. >> Nene Oliveira: As mulheres que vieram antes proporcionaram isso para a gente.

9:45 Se hoje, em 2022, uma mulher pode estar numa faculdade, seja através do sistema de cotas ou não.

9:55 E isso é uma conquista muito grande, isso é uma coisa que, na minha família, só a minha geração que tá em peso,

10:03 conseguindo entrar, ingressar na universidade. Poder se formar, poder ter uma profissão,

10:10 não ficar restrita só ao trabalho do lar, o que não é problema nenhum, ser a mulher do lar

10:19 mas, hoje em dia a gente tem essa escolha, a gente tem essa opção a gente vem conquistando isso pouco-a-pouco.

10:25 E na minha família hoje já teremos professora de matemática, psicóloga, enfermeira.

10:33 Graças a esse poder ser, essa conquista de

10:38 poder ser e poder estar em qualquer lugar Isso é uma conquista muito grande para mim.

10:45 >> Hildete Pereira: As pioneiras, as mulheres que têm os primeiros diplomas, que se destacam no meio da Ciência, na Física, na Química,

10:55 na Matemática, mesmo nas Ciências Sociais, quer dizer, ainda

11:02 tem um peso muito pesado das pessoas brancas porque as pessoas brancas

11:11 tinham maiores rendas do que a população negra, a população negra brasileira veio do regime escravocrata e foi jogada na sociedade brasileira

11:26 sem que o Estado se responsabilizasse por elas quer dizer, isso para mim essa é uma questão de reparação.

11:35 >> Daguimar Braz: Então esse respaldo está vindo lentamente através de cotas, e a gente precisa aceitar, isso aí não é um favor,

11:44 é uma reparação que a sociedade está tentando fazer, caminha em passos de formiga, mas a gente

11:53 tem que aceitar, e aceitar e dizer que eles foram errados.. de contar apenas uma parte da história.

11:59 eu acho que essa conscientização vem a partir da escola, da educação em si, de quando você tem uma política pública que te dá respaldo

12:09 de você ter um ensino médio, um ensino fundamental de qualidade, escolas públicas, que deveriam que ser todas de qualidade,

12:18 a pessoa vai ter mais conscientização, vai ter mais autonomia, vai se sentir um ser político, vai ter condições de questionar

12:27 de ir em busca dessa desse direito. >> Nene Oliveira: Por mais que exista a conquista

12:33 do direito de você poder ingressar numa universidade pública federal ou estadual existe a questão da criação de políticas públicas

12:42 mais efetivas com relação permanência desses alunos. Porque a vida é muito complicada, não é?

12:49 Para a gente que precisa trabalhar e estudar e às vezes é um curso de tempo integral,

12:54 e aí alguns alunos têm que trancar o curso porque uma matéria duas horas da tarde, só que ele tem que trabalhar,

13:01 então assim, tem essas dificuldades, acho que, ainda estamos a conquistar isso, acho que daqui para frente isso pode acontecer

13:11 e eu acredito que vai acontecer, de que tenha alguém lá dentro com um olhar

13:17 para essas pessoas, de que entendam que não é todo mundo que tem condição de estar numa universidade em tempo integral

13:24 sem precisar trabalhar. Então que as políticas públicas sejam criadas e tenha efetivação delas para que a gente possa

13:34 tomar também esse direito, porque é um direito nosso, o direito da permanência, que isso também seja um direito.

13:40 Uma conquista que também está relacionada a Independência Se você consegue algo e consegue se manter ali, você conquista tudo,

13:50 não tem nada que te impeça de fazer nada. Porque com a força que a gente tem,

13:57 a coragem e a dedicação a gente consegue qualquer coisa. >> Hildete Pereira: A luta pela educação eu diria que a gente venceu.

14:04 As mulheres brancas as mulheres pretas, raças, essa luta tá vencida e as cotas tiveram papel importantíssimo

14:11 nessa discussão, nessa questão toda mas, a gente venceu. Agora a gente precisa vencer é que o diploma

14:20 permita que uma mulher e um homem ganha iguais essa é a nossa luta: salário igual para trabalho igual

14:26 Eita, voltou ao século IXX , parece que não sai.

14:31 mas é assim, a vida é um rio que a gente vai avançando

14:44 [Música]

15:06 >> Klésia Sena: Hoje em dia 90% dos empregos domésticos são ocupados por mulheres

15:12 elas são empregadas domésticas, babás, cuidadora de idosos, jardineiras entre outros.

15:20 Eu comemoro a PEC das domésticas porque anteriormente elas tinham poucos direitos, pouquíssimos quase nenhum

15:28 isso quando os patrões cumpriam os que tinham. As domésticas eram submetidas a muitas horas de trabalho

15:36 quando engravidavam, por exemplo, eram mandadas embora simplesmente descartadas

15:42 e substituídas por outra empregada, não tinha nenhum apoio ou segurança financeira.

15:49 >> Raquel Gomes: A minha primeira comemoração é sem dúvida ter comprado a minha casa própria porque foi através da PEC das domésticas

15:54 que eu tive a minha carteira assinada e todos os benefícios que me desse o amparo para poder fazer isso o FGTS que eu usei para dar entrada,

16:02 auxílio família, auxílio maternidade. porque antes a gente não tinha esse benefício de ter a carteira assinada como doméstica

16:09 Então, a compra do meu apartamento é minha maior conquista, minha maior vitória, que veio através da PEC, senão eu não conseguiria ter.

16:17 >> Klésia Sena: A PEC das domésticas foi transformada em lei em 2015 trazendo uma ampliação dos Direitos Trabalhistas para as domésticas

16:26 por exemplo, se ela trabalhar mais que 8 horas por dia, ela vai ter direito a horas extras, se trabalhar à noite vai receber adicional noturno,

16:37 a doméstica que engravidar vai ter direito a licença maternidade, quando for demitida vai receber o FGTS com a multa

16:46 e vai ter direito ao seguro-desemprego essas garantias chegaram um pouco tarde porque

16:53 existia um estigma de que a empregada doméstica fazia parte da família e tendo a proteção familiar não precisaria de direitos trabalhistas,

17:03 E essa lei foi tentando passar durante muito tempo e não passava porque quando era colocada em pauta

17:10 era legado ainda que, os patrões não teriam condições de manter a doméstica com os novos direitos e teriam que demiti-las

17:20 e isso e acarretar um grande número no desemprego. >> Raquel Gomes: O nosso combinado era eu dormir uma vez por semana,

17:26 para economizar na passagem, E isso, eu achava que tava tudo bem, mas

17:34 foram passando os dias e eu ia fazendo papel de babá, de cozinheira, buscava as crianças na escola,

17:40 tudo isso entrava como hora extra e eu não cobrava, porque o meu patrão me ajudava muito, presenteava meu filho,

17:46 me presenteava, então acaba que na hora de cobrar a gente fica até sem graça tipo, poxa mas é tão bonzinho para mim,

17:52 e aí eu vou ter coragem de cobrar uma hora, ou duas horas que eu fiquei a mais? e nunca era uma ou duas, não é?

17:58 o meu horário de sair era às 5 horas e eu trabalhava até às 11 horas, meia-noite… e era assim.

18:03 >> Klésia Sena: e hoje em dia, após muito se falar sobre o assunto, as domésticas estão ficando mais conscientes,

18:10 então, quando uma não tem carteira assinada, ou ainda que tenha, e o empregador não esteja cumprindo todos os direitos, esteja burlando,

18:19 ou seja, não pagando uma hora extra quando ultrapassa do horário, ou ainda, que não pague uma férias corretamente,

18:26 elas estão buscando seus direitos judicialmente quando saem do emprego, quando são demitidas,

18:32 se não receberem todo o valor que é devido, elas não estão mais deixando isso para lá deixando passar, se sentindo como parte da família

18:40 “Ah, era considerada como da família”, não. hoje elas sabem que ali era uma relação de trabalho e vão buscar os seus direitos judicialmente.

18:56 >> Lucilene Morandi: Ela buscou a sua competência, e aí ao longo dos tempos as mulheres puderam obter mais espaço no mercado de trabalho,

19:05 elas hoje assumem postos importantes em instituições internacionais, em empresas, no Brasil e no mundo inteiro,

19:13 então isso eu acho que é muito uma coisa para se comemorar com muita alegria, com muita,…

19:19 apesar de essa participação ainda ser baixíssimo mas, mesmo essa participação pequena foi conquistada pela luta das mulheres,

19:27 agora, o que a gente não tem para comemorar é que a desigualdade permanece,

19:33 apesar da luta das mulheres ter começado lá no século XVIII por igualdade, legislação igual para as mulheres, direitos iguais para as mulheres,

19:43 a gente ainda tem níveis de desigualdade altíssimos. A desigualdade aparece no mercado de trabalho

19:51 em termos de rendimento e participação As mulheres têm em média um rendimento 30% menor

19:57 do que os homens, no Brasil e a participação delas em cargos de chefia,

20:04 cargos de comando, é muito baixa. Elas estão, no geral, nas profissões e nos setores ligados aos cuidados,

20:12 saúde, educação, todo setor que a gente pode classificar como cuidados, a maioria das pessoas que trabalham aí são mulheres,

20:20 não por coincidência, esses setores também são os setores que tem os menores salários, menores rendimentos no mercado de trabalho,

20:27 isso porque os cuidados sempre foram vistos como cultural, historicamente, socialmente, visto como de responsabilidade das mulheres

20:36 e como um trabalho que não existe qualificação, pode ser feito por qualquer um, qualquer pessoa pode substituir da mulher nesse trabalho,

20:46 então, é um trabalho visto como menor, por conta disso, as mulheres são vistas no mercado de trabalho, também, como menos capazes,

20:56 porque o aprendizado delas dentro de casa, no lar, é na direção dos cuidados,

21:03 tanto assim que você dá boneca para a menina e para o menino você dá a conquista do mundo,

21:09 o carro, o foguete, a espada, que é a luta pelo espaço. Para menina você dá o fogão, a boneca, que é o interior da casa.

21:20 Então você educa a mulher para o interior e educa o homem para o mundo.

21:27 E isso, a sociedade vê a mulher como alguém que

21:32 é a responsável pelo cuidado em qualquer nível, seja dentro da família ,seja no mercado de trabalho.

21:49 mais de 70% do emprego na saúde, na América Latina e no Brasil também, é ocupado por mulheres,

21:56 mas quando você chega nos cargos, dentro do setor de saúde, nos cargos com maiores salários, aí a maioria passa a ser homem.

22:04 As profissões com maiores rendimentos, os homens estão mais presentes do que as mulheres,

22:10 e isso tem a ver com um preconceito que é culturalmente

22:16 reforçado, socialmente e historicamente reforçado as mulheres para os cuidados, os homens para o mundo.

22:22 Então esse preconceito, faz com que as mulheres, no mercado de trabalho, sejam vistas de formas diferentes,

22:30 sejam vista como menos capazes e menos confiáveis, menos confiáveis porque elas faltam mais ao trabalho

22:36 e elas faltam mais ao trabalho porque elas são as responsáveis pelos cuidados dentro da família.

22:42 Então, as famílias com filhos pequenos quando a criança fica doente, no geral, é a mulher que vai faltar ao trabalho, ao emprego, e não o homem.

22:52 Então ela é mais faltosa, pelo olhar

22:58 da empresa, a mulher é mais faltosa ela é quem atende as pessoas idosas na casa quando tem problemas,

23:03 ficaram doentes, teve uma queda, sofreu uma queda, precisa de uma atenção especial.

23:09 Alguém ficou doente, é a mulher da família que vai cuidar dessa pessoa.

23:15 Então é ela que vai sair do trabalho mais frequentemente, o homem vai ser visto como tendo um emprego, como chefe de família,

23:23 tem um emprego que é mais valoroso do que o da mulher, então ele não pode faltar, ele não pode fazer o atendimento

23:30 do cuidado, isso é algo que é reforçado frequentemente na nossa sociedade.

23:36 e as mulheres, então, elas perdem as oportunidades, elas não são cogitadas por cargos de chefias

23:44 porque a gente não olha para as mulheres como passíveis de poderem trabalhar 8, 10 horas por dia.

23:50 Agora, a gente tem que pensar também que para as pessoas trabalharem, para o homem trabalhar 8, 10 horas por dia

23:57 tem alguém atrás dele fazendo todo o trabalho de cuidado

24:02 na família dele, na casa dele, mantendo a casa arrumada, fazendo comida,

24:07 lavando a roupa, alguém está levando a criança para escola, trazendo a criança da escola, cuidando da criança quando ela está doente,

24:13 cuidando da pessoa idosa dessa família. Então, a questão do cuidado era uma questão velada,

24:21 escondida na sociedade e a pandemia, se teve algo de bom, se a gente pode dizer assim,

24:27 que é meio absurdo em relação a essa doença, mas se teve algo de bom foi destacar, trazer, evidenciar,

24:36 a importância, a essencialidade dos cuidados para a vida das pessoas

24:43 e para a criação, para geração do bem-estar das pessoas. A forma como os cuidados são tratados na sociedade,

24:49 eles geram e permanecem desigualdades, porque as famílias pobres vão ter menos acesso aos cuidados,

24:57 as crianças das famílias pobres, as pessoas idosas das famílias pobres, tem menos acesso aos cuidados

25:03 porque as pessoas estão tentando trabalhar e receber renda. elas não têm onde ter cuidado, porque você

25:11 não tem serviço de saúde, serviço de escolas de qualidade pública, ou com um preço baixo

25:19 suficiente para as famílias de menor renda pagarem, então, isso mantém a desigualdade e reproduz a desigualdade,

25:29 a gente cria um ciclo vicioso em que as famílias pobres não conseguem sair desse ciclo de pobreza

25:36 porque as crianças não têm acesso a uma escola boa nem a um cuidado suficiente, necessário, de qualidade.

26:02 E as pessoas que continuavam empregadas, muitas delas estavam trabalhando remotamente, então, o trabalho remoto veio para dentro de casa

26:09 junto com todos os trabalhos de cuidado e a divisão “natural” do cuidado é a mulher se encarrega dos cuidados.

26:19 Então, a mulher arcou com o trabalho remoto, quando ela não perdeu o emprego,

26:24 e somou ao trabalho remoto, o trabalho dos cuidados tem várias pesquisas que mostram que as mulheres

26:30 sofreram muito mais com stress, cansaço, durante a pandemia porque elas ficaram com muito trabalho.

26:36 Muitas mulheres desistiram do trabalho remunerado porque elas não davam conta do trabalho remunerado mais o trabalho de cuidados.

26:45 Então elas “optaram” por sair do trabalho remunerado.

26:50 E quando a gente vê a divisão desse trabalho remoto dentro de casa

26:56 muitas pesquisas mostram que os Homens da casa ficavam em espaços isolados, fazendo o trabalho de forma bastante bem, sem interrupção

27:05 e as mulheres realizavam o trabalho remunerado no meio da casa, geralmente na sala de jantar

27:10 dando conta das crianças, da escola, que as crianças estavam fazendo remotamente, do trabalho dela remoto,

27:17 da comida, da roupa na máquina de lavar. Esse excesso de trabalho que as mulheres

27:25 vivenciaram durante os períodos de fechamento, de isolamento social foi reportado no mundo inteiro, tem pesquisas

27:33 mostrando isso de forma mais detalhada, e foi geral as economistas feministas têm trabalhado muitíssimo

27:41 para que a teoria econômica assuma que cuidados é trabalho, isso ficou evidente na pandemia, cuidado é trabalho,

27:48 demanda tempo. Então, no geral a mulher cai no mercado de trabalho para um emprego de meio expediente, para um emprego informal,

27:58 um emprego que ela consiga fazer a partir de casa, tomando conta das crianças, lavando a roupa, cozinhando e fazendo o trabalho dela.

28:05 Então, no geral as mulheres têm um rendimento menor no mercado de trabalho, além do preconceito, também porque elas não conseguem participar

28:14 plenamente do mercado de trabalho. elas não têm o tempo suficiente para estar lá e elas não têm esse tempo suficiente porque elas têm que dar conta dos cuidados.

28:23 E o que que seria necessário para mudar isso? Bom, a gente tem três esferas que eu acho que são importantes para isso mudar.

28:29 Primeiro, dentro das famílias, a divisão entre homens e mulheres, o trabalho de cuidado dentro das famílias,

28:36 começar uma mudança cultural para as pessoas encararem o trabalho de cuidados como de todo mundo.

28:42 Então, eu acho que o primeiro é uma mudança cultural. Segundo, que também envolve uma mudança cultural,

28:49 mas uma mudança social importante, que é o papel do Estado como implementador de novas legislações,

28:58 legislação que puna o preconceito, com o intuito de reduzir e acabar com preconceito,

29:07 “mulher é menos capaz”, “mulher não pode assumir cargos de chefia”,

29:12 “mulher não é tão boa no mercado de trabalho nas funções tais e tais como os homens”.

29:18 eliminar essa cultura e punir via legislação. Mas, além disso o Estado tem um papel fundamental na redução da desigualdade de gênero

29:27 que é o Estado trazer, criar serviços públicos de qualidade

29:33 que beneficiem a participação da mulher no mercado do trabalho

29:40 de uma forma mais igualitária que é dos homens. Como isso ? Por exemplo, as escolas, o Brasil está atrás mundialmente nas escolas,

29:48 não só porque tem um nível, um número de horas aulas muito baixo, mas além de ter um número de horas aulas baixo,

29:55 isso prejudica mais as mulheres do que os homens porque são as mulheres que tomam conta das crianças quando elas saem da escola.

30:02 Então, escolas principalmente até os 14 anos, e creches integrais, seria, eu acho, a política pública número um para reduzir desigualdade.

30:12 Não só a desigualdade de gênero, desigualdade raça também porque quando a gente olha as pessoas mais pobres são

30:18 as pessoas não brancas e mulheres. A pobreza ela não é igualitária, a pobreza é feminina e é negra.

30:29 Então, aumentando, melhorando a qualidade das escolas públicas,

30:35 escolas e creches de tempo integral, libera as pessoas para o mercado de trabalho, em uma primeira etapa,

30:42 escolas de boa qualidade, escolas públicas de boa qualidade faz com que as pessoas formadas nessas escolas,

30:49 elas entrem no mercado de trabalho melhor porque elas estão melhor formadas. Hoje a gente tem escolas públicas de qualidade

30:57 que são destaques em várias áreas, mas, são poucas, a gente precisava que todas fossem assim.

31:02 No Brasil, a participação feminina no mercado de trabalho que já é menor que dos homens caiu para níveis de 1992,

31:10 a gente andou 30 anos para trás, ou seja, tudo que as mulheres tinham conquistado de abrir espaço no mercado de trabalho foi perdido, vai começar tudo de novo.

31:18 Então as mulheres são as mais prejudicadas, e porque elas ganham menos elas saem para ficar cuidando em casa,

31:25 e porque elas cuidam elas participam menos do mercado de trabalho tem renda menor. Então a gente não vai sair desse embróglio.

31:32 Então, a gente precisa de políticas públicas, por exemplo escolas e creche em tempo integral,

31:37 e precisa também de legislação e uma nova visão cultural e social das empresas também.

31:44 As empresas entendem a pessoa empregada como alguém que não tem nada para fazer fora do trabalho,

31:52 as pessoas não têm cuidados para fazer em casa, as pessoas não têm filhos para cuidar, não tem filhos para levar para creche e trazer da creche,

32:00 não tem pessoa idosa, a mãe, o pai, o avô que precisa de cuidado e essa pessoa precisa cuidar dela,

32:07 os cuidados estão fora da visão da empresa, a empresa quer receber uma pessoa prontinha e livre,

32:15 100% livre, ela não tem nenhuma responsabilidade de cuidados.

32:20 Então, já existe todo um movimento no mundo e muita discussão para as empresas começarem a incluir maior flexibilidade

32:28 de horário para todo mundo para homens e mulheres. As mulheres, elas porque têm uma licença maternidade maior,

32:37 muitas empresas não querem contratar mulheres jovens. -Não, ela já teve filho ou vai ter filho?

32:42- Ah, essa pessoa já teve todos os filhos não quer mais filho? ótimo, eu contrato essa mulher. -Não ela está jovem, ela vai casar, vai ter filho?

32:49 não quero! Porque quando ela tiver filho, ela vai ter licença maternidade, e vai ficar muito tempo fora.

32:54 Quando a gente tem licença de pais e mães

33:00 de mesmo tempo de mesma duração, aí então, no mercado de trabalho a gente chega igual, então, homens e mulheres não são diferentes,

33:08 eles vão ter filhos, eles são jovens e vão ter filhos. E eles precisam do tempo.

33:13 A reprodução da humanidade depende dos cuidados não só para engravidar mas, para cuidar do bebê,

33:21 depois cuidar da criança, cuidar da criança até ela ficar independente sozinha,

33:27 isso é um cuidado social, faz parte da sociedade, a gente tem que entender isso, e não imaginar

33:34 que o cuidado acontece em algum lugar fora da empresa, então, a gente precisa de uma nova empresa, uma nova visão da empresa.

33:42 E como é que a gente chega nessa Nova Visão? Não vai ser a partir da empresa, vai ser a partir de legislação, movimentos sociais, pressão novamente dos movimentos sociais,

33:52 dos movimentos de mulheres, que já fazem isso mas, que precisa de mais pessoas serem angariadas para esse movimento

33:59 a partir do momento que as pessoas entendem que isso não é uma demanda das mulheres,

34:05 é uma demanda da humanidade.

34:12 [Ruido de onda de praia]

34:25 [Música]

34:34 Essa mulher não é um ser único ela sempre tem a família os filhos os amigos em volta.

34:41 >> Jaciara Berkowitz: Eu acho que foi um marco os anos 70 que favoreceu a essa mulher planejar a vida dela.

34:51 Com a o advento da pílula elas começaram a ser mais donas de si, a programarem mais a concepção se querem ou não conceber.

35:03 Elas podem amar sem necessariamente se preocupar em ter filhos. Os anos 80 vem com as políticas públicas com os programas.

35:11 Em 83 surge o PAISM que é o projeto de assistência integral à saúde da mulher

35:17 onde é colocado para essa mulher o que ela

35:22 pode ter em relação à saúde pública então ela vai ter acesso a anticoncepcionais gratuitos

35:30 ela vai ter acesso a palestras, ela vai ter acesso a coisas

35:36 para descobrir o corpo dela e saber o que ela vai fazer. Quais são os métodos que ela pode ter de anticoncepção?

35:44 É importante a gente falar também que diminuíram o número de abortos,

35:49 porque quando você tem mais acessibilidade ao uso desses anticoncepcionais

35:55 você diminui os abortos a gravidez na adolescência também há uma

36:00 estatística de que houve uma melhora é claro que junto a isso você tem que ter programas de saúde

36:07 para que tenha palestra, que haja divulgação, para que tenha um consenso,

36:12 para que elas tenham essa noção da necessidade delas usarem esses métodos Juntamente com isso nós temos o desenvolvimento tecnológico

36:22 que favoreceu essa saúde da mulher. Então, o que a gente tem hoje, e essa tecnologia

36:32 é muito rápida, nós temos hoje já do final dos anos 90, é a capacidade

36:39 de detectar um câncer muito precoce na mama da paciente, e ela tem isso pela mamografia,

36:46 ela tem essa acessibilidade perante ao sistema público. Ela tem como tratar uma dor pélvica através

36:54 de um diagnóstico de endometriose por métodos tecnológicos, que a gente tem através dos exames de imagem,

36:59 que hoje são disponíveis, então uma mulher de hoje de 30 anos quando a mãe dela estava grávida ela não tinha as ultrassonografias

37:08 as coisas que a gente tem hoje para detectar uma má formação, para até mesmo se programar um abortamento consentido

37:18 porque até a décima segunda semana se você tiver uma gravidez incompatível com a vida

37:26 há um respaldo legal para que você possa fazer esse aborto Então, isso tudo foi diagnosticado através dos recursos

37:34 tecnológicos, das ultrassonografias principalmente. >> Stephania Klujsza: Eu comemoro o avanço da medicina

37:41 porque trouxe melhorias para a saúde das mulheres e também o SUS porque nunca é demais lembrar

37:49 a importância do SUS para garantia da democracia e consequentemente para melhoria na vida das mulheres e na saúde das mulheres.

37:58 E além disso eu comemoro também as diversas

38:04 iniciativas sejam jurídicas ou políticas de saúde com relação à atenção ao parto

38:13 visando garantir um parto mais respeitoso e mais seguro para as mulheres.

38:19 como a lei do acompanhante, a lei das doulas, as diretrizes para acompanhamento do parto normal,

38:30 inclusive Humaniza SuS, que busca humanizar o atendimento,

38:36 e também a Rede Cegonha que recentemente foi substituída, no governo anterior, pela Rami,

38:41 o que foi considerado uma grande, que a gente perdeu muita qualidade porque a Rede Cegonha é uma das políticas

38:52 mais bem sucedidas do SUS e era uma política que acompanhava da gestação

38:58 ao parto, o pós parto e a saúde da criança e ela foi substituída por essa Rami E essas políticas de saúde, essas iniciativas,

39:07 elas trouxeram à tona as questões relacionadas ao parto, ao parto normal, ao parto humanizado,

39:13 e consequentemente a violência obstétrica e tratar dessas questões na nossa sociedade

39:20 faz com que as mulheres se informem mais, que busquem uma outra experiência de parto.

39:28 E aí, para falar do meu tema específico que é a violência obstétrica,

39:34 eu acho que foi de grande avanço e uma grande conquista nossa garantir que a gente

39:44 consiga falar sobre violência obstétrica na nossa sociedade. Então, as mulheres, os usuários de serviços,

39:51 os profissionais de saúde, isso fazer parte das políticas de saúde e etc.

40:03 E aí poder falar sobre isso traz mais segurança para as mulheres entenderem o que é normal, o que é respeitoso,

40:12 o que é digno, e o que não é, nessa experiência de parto. E apesar do governo anterior ter tentado, ter dito

40:22 que não reconhecia a violência obstétrica, em 2019 dizendo que o governo não usaria o termo,

40:31 nenhum documento do governo usaria esse termo. Justificando que era um termo que não agregava valor

40:38 e que ainda causava uma desconfiança na relação entre o médico e o paciente,

40:44 Apesar dessa tentativa de deslegitimar a causa,

40:51 eles não conseguiram e a gente continua falando muito sobre violência obstétrica.

40:56 E isso é fundamental para o desenvolvimento das próximas políticas de saúde que buscam cada vez mais respeitar autonomia da mulher,

41:06 respeitar a experiência de parto, proporcionar

41:11 uma experiência de parto mais positiva do que ela era antigamente desvinculando esse lugar de tanta dor de tanto sofrimento

41:19 para um lugar de mais acolhimento, de mais

41:25 satisfação, de uma experiência mais positiva [Música]

41:39 >> Corina Mendes: Para que a gente tenha autonomias, é preciso que a gente tenha autonomia corporal, que passa pela saúde sexual e reprodutiva,

41:49 que passa por uma mulher poder decidir sem coerção sobre como, quando, quantos filhos, e sequer, por exemplo, ter filhos e filhas.

42:00 Que também coloca em cena a problematização de maternidade compulsórias.

42:06 Isso passa por muitos lugares, eu acho que tem muita discussão, para muita coisa, mas eu acho que isso é um desafio,

42:14 pensar o que nos une mulheres diferentes, em coletivos diferentes,

42:19 espaços diferentes, com pautas diferentes, numa agenda,

42:26 que eu acredito que é comum, que busca a emancipação, a manutenção

42:31 e o avanço dos direitos conquistados, e a vigilância pelo não retrocesso dos direitos,

42:37 principalmente sexuais reprodutivos

42:49 [Música]

43:17 >> Barbara Pimentel: A gente tem hoje uma das três melhores leis do mundo que fala sobre a proteção à mulher

43:24 que é a Lei Maria da Penha e ela deve ser comemorada, ela deve ser celebrada

43:29 porque junto da Lei Maria da Penha veio uma construção feminina gigantesca. Como era o Brasil antes da Lei Maria da Penha?

43:37 Eu vou trazer a história da Maria da Penha mesmo para gente elucidar como era o Brasil como sociedade nesse período.

43:45 A Maria da Penha era farmacêutica bioquímica, é importante pontuar esse aspecto porque ainda tem muito estigma de que

43:55 mulher que sofre violência são mulheres com menor grau de instrução

44:00 ou numa condição social mais baixa.

44:05 E na verdade isso é de fato estigma, as mulheres eram desprotegidas em várias esferas e várias classes sociais.

44:15 E ela começou a sofrer violência doméstica pelo marido dela, o companheiro

44:21 e uma das violências domésticas ela estava dormindo e ela levou um tiro que deixou ela paraplégica.

44:31 Depois, na defesa, ela fez até um registro de ocorrência sobre isso mas, o marido alegou que foi um assalto e ficou por isso mesmo,

44:40 ela não foi amparada, ela não foi protegida. Numa nova tentativa de homicídio, pelo marido

44:47 dela, ela já paraplégica, com três filhos, aos 38 anos, ele levou a Maria da Penha para

44:55 uma banheira, tentou afogá-la e eletrocutá-la. Então, mais uma vez a justiça brasileira

45:03 atuou de forma omissa. A Maria da Penha fez uma denúncia internacional,

45:10 ela recorreu aos organismos internacionais, e ela conseguiu com que o Brasil fosse condenado

45:17 por negligência e omissão no caso do agressor dela, que não foi punido.

45:23 Durante todo esse período ele não foi preso e ele não foi punido. E parece absurdo, não é? a gente contando essa história hoje

45:30 mas, essa era a sociedade brasileira antes da Lei Maria da Penha com essa punição, o organismo Internacional

45:37 sugeriu ao Brasil que criasse uma lei que tratasse a violência doméstica como

45:44 uma violação de direitos humanos. Então, em 2006, o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

45:52 promulga a Lei Maria da Penha e ele traz ao direito da mulher,

45:59 essa lei traz o direito da mulher, o aspecto de direitos humanos. >> Tia Jô: Eu comemoro o fato de ter sido

46:06 a primeira mulher negra de comunidade a denunciar um agressor e ele ser preso na Maria da Penha.

46:13 Hoje a gente vê que tem uma dificuldade muito grande da denúncia por você morar em territórios,

46:18 em comunidades, e as mulheres sentem medo porque elas falam: -Como que a polícia vai subir aqui?

46:25 Então, o fato de eu ter denunciado, eu encorajo hoje outras mulheres, e também ganhei a medalha Chiquinha Gonzaga

46:33 por ter sido a primeira mulher a ter coragem. Então, hoje eu Tia Jô, enquanto mulher empoderada,

46:40 enquanto sobrevivente três vezes de (tentativa de) feminicídio, eu encorajo outras mulheres. Então, a minha comemoração é o fato de ter tido coragem,

46:46 em morar em uma comunidade, e ele ser denunciado, e ele ser preso na Maria da Penha.

46:53 Ter a certeza que não existe impunidade quando você se encoraja.

46:59 Então, hoje eu encorajo outras mulheres a fazer o mesmo >>Barbara Pimentel E a Lei transcende o aspecto punitivo,

47:08 a lei é abrangente em outros aspectos, ela faz uma ligação entre diversas áreas de Direito:

47:15 Direito Civil, Direito do Trabalho, Direito de Família, assim como vários eixos da sociedade, a lei

47:22 também vem ligando Saúde, Educação, Assistência Social,

47:29 então a gente tira apenas do Direito Penal esse aspecto apenas de punir o agressor.

47:35 a lei vai trazendo mecanismos de prevenção para violência doméstica

47:41 que geralmente segue um ciclo, a violência doméstica ela basicamente se repete, a forma que ela começa e como ela termina

47:50 Quando o homem mata mulher? Quando ela se posiciona sobre alguma coisa dentro do relacionamento,

47:55 quando ela quer por fim no relacionamento, então, como ela tem ainda esse papel de propriedade,

48:02 o homem se sente no direito de matar. >> Tia Jô: O Programa Empoderadas é o maior programa de enfrentamento a violência contra mulheres e meninas do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

48:10 Eu dou curso de capacitação profissional para as meninas através da beleza que é manicure, design, trancista.

48:16 E o Empoderadas não é só isso, a gente tem psicólogo, tem assistente social, tem a parte jurídica,

48:23 que quando as meninas precisam de renovar a medida protetiva, elas estão juntas. A gente é parceiro das DEAMs, da Patrulha Maria da Penha.

48:31 E aí o que que é Empoderadas faz? A gente abraça essa mulher quantas vezes ela foi denunciar e ela voltar para o agressor.

48:39 Porque a gente costuma dizer que é um ciclo bolha, ela tá envolvida, o cara bate, mas ele dá uma flor, ele dá uma joia,

48:46 leva para um jantar, leva para o hotel, e ela pensa: _ Não ele estava nervoso, ele bebeu, daqui a pouco ele não vai fazer mais isso comigo.

48:55 Até essa mulher se despertar, e ela entender que ela está vivendo um ciclo de agressão, e ela se encorajar a denunciar.

49:03 Então o Empoderadas hoje é uma família que ninguém larga mão de ninguém e a gente tá aí para poder mostrar para as mulheres

49:11 que existe um mundo além daquele que ela tá vivendo que é nesse ciclo de violência >> Bárbara Pimentel: No Brasil é normalizado a violência contra mulher.

49:19 Então isso dá palco, dá amparo para esse tipo de fala: Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher…

49:27 Roupa suja se lava em casa… Então a gente se retira do papel de transformação social.

49:34 E a Lei Maria da Penha traz para a gente hoje a possibilidade de denunciar a violência doméstica que está acontecendo na casa da minha vizinha.

49:42 Então a gente se torna agente da transformação social.

49:47 Essa mudança que a gente precisa não depende apenas de uma lei promulgada. A Lei está aí.

49:53 e a Lei vem se transformando e se adaptando as mudanças sociais,

50:02 por exemplo, a Lei Maria da Penha sofreu uma alteração transformando homicídio em feminicídio

50:09 antes, a gente não tinha um parâmetro de quantas mulheres morriam por questão de gênero

50:17 porque a gente tratava tudo como homicídio, então hoje como a gente nomeou o problema, a gente sabe que

50:23 o Brasil é um dos países que mais mata mulheres por questão de gênero, por ser mulher.

50:29 O direito da mulher é uma construção, é luta, é diariamente,

50:35 cada mulher, hoje desde muito tempo, e ainda hoje, no seu palco de atuação,

50:42 tem um papel fundamental na luta pela independência feminina.

50:48 >> Tia Jô: Então nós hoje não precisamos apanhar para que a gente consiga denunciar, para ter uma medida protetiva

50:54 e vivermos livre, porque o não é não. Então assim, não pode de hipótese alguma eles estarem solto e nós presas,

51:02 nós somos livres para as nossas próprias escolhas [Música]

52:03 >> Hildete Pereira: Com a república elas sonharam que podiam votar porque a República é um regime democrático,

52:12 as pessoas são chamadas a decidirem quem elas querem que dirija o país, a sua terra

52:19 por algum tempo. Em 133 anos de república você só tem uma

52:27 presidenta mulher eleita. A primeira ministra nomeada no Brasil foi

52:33 pelo governo Figueiredo em 1978, a Ministra da Educação. Então, portanto vocês têm uma ideia de como a política

52:42 é o lugar de rejeição para as mulheres. Esse eu acho que é o desafio do Século XXI.

52:48 >> Betty Rocha: Eu comemoro o olhar que as mulheres passaram a ter uma pelas outras. O exercer a empatia, ao se colocar no lugar da outra

52:56 mulher, ao exercitar a sororidade, a não falar só sobre a sororidade

53:03 mas exercitar isso no cotidiano, Pensar que hoje uma mulher olha, às vezes, não sempre

53:09 infelizmente, mas existe hoje uma predisposição das mulheres

53:15 em se colocar no lugar da outra, em perceber o quanto as nossas lutas, embora nós estejamos em lugares sociais diferentes, mas as nossas

53:26 lutas por espaços, elas são as mesmas. Seja na política, seja na educação, seja por espaço,

53:33 por condições melhores no local de trabalho, seja por direito. O Brasil é um dos países que tem maior número de mulheres

53:40 em termos populacionais, são 52% da população de mulheres,

53:45 e nós temos uma das mais baixas participação da mulher na política em relação aos outros países da América Latina.

53:52 No último ano, na última eleição, em 2022, o Brasil elegeu apenas 17% do quadro de deputadas mulheres.

54:03 Por que? Se nós somos a maioria da população, por que nós temos tão pouco espaço na política?

54:09 Muitas vezes quando uma mulher decide entrar para política, ela sente medo,

54:15 medo de falar, medo de se posicionar, medo de parecer ridícula, medo de se expor.

54:23 Porque a mulher tem que cuidar desde a roupa que ela coloca para o espaço que ela está,

54:29 até mesmo o tipo de violência que ela pode

54:35 acionar no outro. Buscar esse lugar, ela também enfrenta outros medos,

54:41 ser mulher muitas vezes é ter medos e a gente precisa enfrentar esse medo porque

54:48 esse espaço precisa ser ocupado por nós as mulheres elas precisam ter espaços para fazer

54:55 políticas públicas que venham acabar com essa disparidade que tem tanto,

55:01 a gente fala muito no mercado de trabalho da questão salarial mas, não é só a questão salarial, é questão de direito, é respeito.

55:10 [Música]

55:24 >> Ana Beatriz Paz: Eu comemoro a coesão feminina de união e força que teve na constituinte de 1988

55:30 com um único objetivo que elas tinham, reconhecimento dos direitos das mulheres. A partir desse movimento, que inicialmente ganhou o apelido

55:38 até pelos parlamentares, homens, de Lobby do batom e depois ficou difundindo e divulgado, reconhecido com esse nome,

55:45 até as mulheres se apropriaram desse nome mesmo. Foi o movimento que as mulheres mostraram sua força , sua união,

55:51 para poder garantir direitos na Constituição Federal de 1988 que antes nós não tínhamos.

55:56 >> Betty Rocha: Esse espaço para mulher na política, é muito recente, são leis muito recentes, nós estamos falando aí de

56:06 500 anos de história aonde a mulher não tinha espaço na política. Então, esse espaço ele precisa sim ser conquistado.

56:15 Por isso que também quando eu disse: Eu comemoro olhar de uma mulher para outra mulher, é também que as mulheres entendam a importância

56:24 da sua participação política. Não ficar restringindo _ “ah eu não gosto de política”. Mas, você é um ser político. E aliás,

56:32 a mulher é a que mais faz política dentro de casa. >> Daguimar Braz: Se você tem uma reunião de pais, você vai na reunião de pais. participa.

56:39 você : Olha meu filho assim, ele tem essas condições. _ Entendeu? _ Minha história de vida é essa,

56:44 o que eu posso colaborar com a escola? Entendeu? Então, você pode fazer a sua política,

56:50 a sua conscientização de que você pode alcançar o que quiser na sociedade a partir do que você tem em mãos. Entendeu?

56:56 E aí sim a sociedade vai ver a nossa busca, nossa luta e vai, cada vez mais, nos dar condições de ter essas políticas públicas reais,

57:08 que nos dão condições da gente estar cada vez mais exercendo outros lugares na sociedade, lugares melhores, e não a margem na sociedade.

57:20 >> Betty Rocha: um dos avanços, em termos políticos, que nós tivemos nos últimos tempos foi a criação da secretaria nacional de políticas para as mulheres,

57:28 que foi criado lá em 2003 e depois descontinuada

57:33 no governo anterior que era uma secretaria com status de ministério, que teve um papel fundamental em várias conquistas que nós tivemos nos anos 2000

57:43 a conferência nacional de mulheres, a inserção da temática de políticas para as mulheres dentro do plano plurianual.

57:55 então o fazer política também institucionalizada no Estado Brasileiro.

58:00 >> Ana Beatriz Paz: Será que os homens vão pensar em políticas públicas voltadas para mulheres? Provavelmente não porque a gente já conhece

58:07 o histórico disso, a gente aprende com a história. Então o que a gente precisa? Que mais mulheres

58:12 adentrem no campo político, que se reúnam dentro dos coletivos ,que vão

58:17 mesmo as ruas, e que faço políticas públicas. Então de que forma isso pode acontecer?

58:23 Com mais mulheres dentro do Parlamento, com mais mulheres encargos de gestão, com mais mulheres assumindo posições de liderança para que formule,

58:30 execute políticas públicas voltadas para mulheres. A política não é feita somente na eleição,

58:37 não é só de dois anos quando a gente vai lá escolhe um candidato, não é isso. a política é o nosso dia a dia as nossas são escolhas são escolhas políticas

58:44 Então, para que a gente, de fato, possa se olhar no espelho e pensar, somos mulheres Independentes, somos cidadãs de direito,

58:53 e de fato possam Brasil ser um país, um Estado democrático de direito, a gente precisa de igualdade, precisa de participação feminina.

59:01 Então, vem participar porque só com os movimentos que a gente consegue, de fato, evoluir e quebrar

59:07 todas as barreiras que existem aí na sociedade brasileira. >> Hildete Pereira: Começa a independência com a assinatura de uma mulher,

59:15 nos 100 anos as mulheres botam a cabeça de fora, organizadas, vão se organizar nacionalmente para lutar

59:22 pelo direito de votar e ser votada. E, em 2022, novamente as mulheres estão na rua

59:31 reivindicando mais direitos, igualdade salarial.

59:38 [Canto de pássaros]

59:44 >> Milenna Gomes: A nossa Independência tem que ser igual de um passarinho. O passarinho pode ir onde quiser, pode fazer o barulho que quiser,

59:50 e pode falar com quem quiser. Mas, uma hora alguém vai querer prender esse passarinho.

59:56 Mas, muitos não serão presos por eles vão lutar. Moral na história: seja livre enquanto há tempo.

1:00:04 >> Bárbara Pimentel: Eu acredito pessoalmente que a sociedade hoje

1:00:09 anseia pelo protagonismo feminino. [Barulho de trem chegando]

1:00:26 [Falácia]

1:00:34 >> Sônia Oliveira: Com base em tudo que ouvi tenho certeza de que nós mulheres devemos sim comemorar os avanços conquistados

1:00:43 e fortalecer nossa coesão, já que entendemos que só assim

1:00:49 continuaremos Derrubando as Barreiras que existem no nosso caminho.

1:00:55 [Música]

1:01:04 >> Nene Oliveira: Só não sou, o que querem que eu seja, sou muito mais do que você vê faço muito acontecer

1:01:14 sonho brindo e realizo tudo por competência

1:01:19 Isso faz parte da minha essência Me consolo, fico solo, e reconstruo, sou livre

1:01:30 capaz de estar aonde quiser Desconstruo paradigmas, faço o papel que eu quiser

1:01:40 sou menina sou mulher sou forte, sou minha, sou como água,

1:01:46 Derrubo Barreiras e chego lá Minha Independência eu quero comemorar

1:01:54 sou forte sou minha, sou como a água, Derrubo Barreiras eu chego lá

1:01:59 minha Independência eu quero comemorar,… minha Independência eu quero comemorar…

1:02:07 minha Independência eu quero comemorar.

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